bolsista da coordenação entrevistou docentes do curso sobre o futuro do jornalismo
professora Vivian: destacando o valor dos grupos de pesquisa na formação dos estudantes
O cenário da Comunicação Social passou por transformações ainda mais drásticas nos últimos anos, embora mudanças sempre existiram na forma de se fazer jornalismo e todas as maneiras de se produzir comunicação. Com o crescimento das plataformas digitais, surgiram novos desafios ainda maiores. Entre eles, o de enfrentar a desinformação, o radicalismo político nas redes sociais e o modo de usar a inteligência artificial em favor da qualidade na profissão. Neste novo “ecossistema midiático”, em que todos podem ser consumidores e produtores de informação, questiona-se: o que diferencia um jornalista profissional e o torna relevante?
A capacidade de mediação, fator que torna um profissional da área de comunicação relevante, vem sendo relativizada. Antes das redes sociais ocuparem espaços, era muito mais fácil para um jornalista assumir este trabalho de mediador da informação. Atualmente, porém, os profissionais precisam se reinventar e buscar formas de conciliar a mediação profissional dos jornalistas com os conteúdos produzidos nos ambientes digitais. No contexto do crescimento das redes sociais se observa também, a chegada das fake news. Este novo aspecto gera acontecimentos preocupantes que o jornalista deve enfrentar. Para manter-se relevante e necessário nas próximas décadas, os jornalistas devem reforçar a responsabilidade ética e aperfeiçoar as funções técnicas aprendidas nas universidades.
De acordo com a professora Roberta Roos Thier, outro fator relevante que diferencia os profissionais da informação quando comparados ao cidadão comum que produz informação é a habilidade de poder trabalhar em diversas áreas. Gerenciar uma equipe e entregar um trabalho de qualidade exige do jornalista mais do que conhecimentos básicos; requer uma visão ampla e integrada da profissão. Essa abordagem permite destacar-se no campo, mesmo em um cenário cada vez mais transformado pela tecnologia e pela inteligência artificial, explica ela.
O passado como forma de aprendizado
As transformações no Jornalismo são rápidas e visíveis, tornando-se cada vez mais frequentes. Estamos em uma era na qual a tecnologia ocupa um espaço crescente nas redações e nos estúdios de televisão e rádio. O professor do curso de Jornalismo, Eduardo Silva, relembra com precisão o ano de 2010, quando se formou em jornalismo pela Unipampa, como era o fazer jornalístico naquela época. Ainda era um período no qual o Twitter, atual X, era usado como uma rede nova dentro do jornalismo. Fator esse que permitia poucas interferências entre o fazer jornalístico dentro desta rede. Tudo ainda era superficial, novo, um lugar que recém estava começando a ser explorado, utilizado mais por figuras públicas para buscar fazer declarações através da rede. professor Eduardo ainda destaca que “hoje, os meios de comunicação tradicionais estão nas redes sociais, como Facebook, Instagram, TikTok e YouTube. Parte do jornalismo que eu aprendi na universidade mudou radicalmente. A forma de fazer jornalismo no digital ainda está em discussão”.
A docente Vivian de Carvalho Belochio também compreende que no seu tempo de estudante, muitas coisas dentro da área da comunicação ainda eram novas e pouco exploradas. Como pesquisadora, ela destaca a grande dificuldade que teve em compreender, durante a faculdade, as convergências jornalísticas que já aconteciam naquele tempo. E como dica e conselho aos atuais estudantes, ela ressalta a importância de participar de grupos de pesquisa: “Eu acho essencial que o estudante ele tenha consciência, e ele só vai consumir cada vez mais produtos jornalísticos atuais, e ele vai precisar buscar conhecimento sobre as coisas que estão acontecendo no momento, e para isso ele vai precisar buscar esse conhecimento às vezes em fontes externas, ele vai precisar buscar um grupo de pesquisa para tentar responder os seus questionamentos. Porque às vezes as disciplinas correntes que estão no PPC atual do curso elas não conseguem dar conta das mudanças mercadológicas e tecnológicas”, ressalta a docente.
E é nesta lógica de aprendizados passados que a professora Roberta Roos ainda destaca a grande importância de sempre se questionar sobre o futuro da profissão, principalmente dentro da academia, pois de acordo com ela, é dentro da Universidade que devemos refletir sobre questões futuras e sobre novos eixos dentro de uma profissão, principalmente, em relação ao Jornalismo. “Eu estou sempre pensando em relação a isso, como é que esse futuro profissional ele pode ser melhor preparado na academia para dar conta de tudo isso que está aí fora, um mundo completamente atropelado por esse avanço da tecnologia” destaca a professora.
Além dos aspectos futuros, existem também as dificuldades que futuros jovens profissionais enfrentam nos dias atuais. Em uma recente análise feita pela Microsoft e o Linkedin, observou-se que houve um aumento expressivo em relação ao interesse por cursos e qualificações envolvendo a IA. Mas o detalhe mais significativo, é que não são apenas profissionais de uma única faixa etária, mas sim, de diferentes idades. O que se imaginava no surgimento da IA era que as gerações atuais dominariam com muito mais eficácia estas novas tecnologias, mas um fator muito predominante dentro destas atuais gerações é a questão do imediatismo. Aspecto muito mais ligado à questão da pressa e de poucos hábitos de estudo e leitura. Uma geração que cresce conectada ao imediato, ao rápido e prático. E são esses fatores que podem prejudicar um futuro profissional em relação ao destaque dentro de uma empresa, explicam as professoras.
O jornalismo como profissão do futuro
A comunicação, no nosso momento atual, vive em um universo infinito de possibilidades. Isso oferece ao jornalista múltiplas habilidades e novas funções dentro de uma sociedade midiatizada. O profissional do futuro em relação às técnicas deverá ser habilidoso e ter domínio das tecnologias, pois agora tudo entra em jogo dentro da profissão jornalística: escrita, fotografia, vídeo e edição. Em relação ao conhecimento, o jornalista cumpre com as suas atribuições em relação à sociedade através da mediação, mostrando e demonstrando a sua capacidade intelectual e a sua diferenciação em comparação aos demais.
Além disso, o professor Miro Bacin ressalta um fator crucial para alcançar relevância na sociedade: a ética profissional. Ele enfatiza que esse aspecto começa a ser desenvolvido ainda na Universidade, especialmente em disciplinas de Legislação e Ética Jornalística. Para o futuro, ser jornalista exigirá uma combinação de profundos aspectos intelectuais e culturais. Nesse contexto, Bacin reforça a importância da humanização do fazer jornalístico. Ele explica: “Existe uma dinâmica que eu acho muito interessante, que é tirar da invisibilidade aqueles que hoje são invisíveis. É isso que buscamos em nosso projeto de pesquisa, desenvolvido por mim e pela professora Adriana Duval. Um exemplo são as Crônicas da Cidade, publicadas na Folha de São Borja. Com quase mil crônicas, mapeamos a cidade e presenteamos a comunidade ao revelar personagens que até então eram desconhecidos”, comenta o professor.
Como sustentar modelos novos ou atuais de financiamento em relação ao jornalismo ético e de qualidade?
Para a docente Eloisa Klein, um financiamento que já faz parte do meio jornalístico é o chamado financiamento coletivo (crowdfunding). Isso refere-se a pequenas quantias de dinheiro pagas por usuários que permitem realizar manutenção de sites ou até mesmo de sistemas, e mantê-los ativo. Como exemplo, podemos citar o caso da Zero Hora que, a partir da cobrança no valor de um real por usuários, permitirá acesso ao conteúdo jornalístico de qualidade.
“São estratégias que estão sendo implementadas e que têm tido algum sucesso, uma vez que a monetização do conteúdo informativo em mídias sociais é muito pequena em comparação ao conteúdo de entretenimento, então essas são estratégias que são buscadas para tentar romper com esses problemas” destaca a docente.
Além de todos esses aspectos e dos inúmeros desafios que ainda podem surgir com o passar dos anos, há um elemento essencial que deve ser permanente na prática jornalística: a ética profissional e o compromisso com os fatos. Como já destacado pelo professor Miro Bacin, a ética não é apenas um requisito técnico, mas um alicerce que sustenta a credibilidade da profissão. Em um cenário cada vez mais marcado por desinformação e pressão por rapidez, o cuidado com a apuração e a responsabilidade na divulgação das informações se tornam indispensáveis para fortalecer o papel do jornalismo como pilar da democracia e voz da sociedade.
Para a professora Eloisa Klein, essa responsabilidade é o que define a essência do jornalismo: “Tecnologias entram, tecnologias saem, mas o zelo com a sociedade, com a coisa pública, o respeito pela sociedade, pela discussão pública é o principal e sempre vai ser do jornalismo. Sem isso não é jornalismo”. O professor Eduardo Silva, complementa: “O jornalista é um profissional da informação. E isso tem que ser reafirmado, essa principal capacidade que é fazer essa curadoria das informações”.
Texto e fotos: Amanda Moreira Ferreira, bolsista da Coordenação do curso.